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domingo, 5 de junho de 2016

#CantinhodaCultura

Adoniran Barbosa: poeta periférico de sua

 época?
A sua vida, assim como toda sua obra, é marcada pelo bom humor e a criatividade, começando pela escolha de seu “nome artístico”. Na realidade, Adoniran Barbosa não era o seu nome de batismo, mas João Rubinato. Ele achava que João Rubinato não era nome de cantor de samba, tinha de ser algo mais “abrasileirado”. Resolveu mudar. De um amigo pegou emprestado Adoniran e, em homenagem ao sambista Luiz Barbosa, adotou seu sobrenome. Naquele momento de meados do ano de 1933 nascia Adoniran Barbosa.
Adoniran Barbosa, filho de imigrantes italianos pobres, nasceu na cidade de Valinhos no ano de 1910, tendo passado muitas necessidades praticamente em toda sua infância. Teve de largar a escola para ajudar na renda familiar fazendo bicos ou trabalhos informais. Esse fato marcaria decisivamente a sua vida. Digo isto, pois Adoniran Barbosa era semi-alfabetizado, o que dificultou sua entrada no mercado de trabalho em São Paulo, cidade onde começou a morar no ano de 1932.
É muito comum para as famílias de periferia, acontecer este fenômeno dos filhos abandonarem os estudos escolares para ajudar na parca renda familiar. A (i)lógica da sociedade capitalista, onde poucos possuem muito e muitos possuem muito pouco, faz com que as pessoas se submetam a viver nos limites. Limite do desespero, limite da sobrevivência e limite de abandonar os estudos (conhecimento) para cair de cara no mundo, sem perspectiva de vida ou compreensão dos motivos que o levam a este estado.
Existem várias maneiras em que as massas lidam com esta situação de limite, através da violência, da subordinação às leis excludentes, da organização coletiva (partido ou movimento social), ou utilizando a arte. A arte é uma forma em que o artista representa o seu mundo, ou seja, ela pode ser entendida como uma expressão da realidade, pois o artista faz parte desta, sendo sujeito ativo.
Para a população pobre, o mercado de trabalho é o local onde será feita sua sobrevivência, diferentemente para os ricos, que a consideram como local de enriquecimento. Sendo assim, Adoniran Barbosa, teve muita dificuldade para entrar no mercado de trabalho paulistano, mas tinha desenvolvido algo que o consagraria: a arte. Apesar de ter passado por muito sofrimento na sua infância pobre, a convivência que teve nas “malocas”, possibilitaram-no além de uma musicalidade, um humor que era cômico e sarcástico.
Portanto, o humor no rádio e depois na música foram os meios encontrados por Adoniran Barbosa, na difícil sobrevivência no urbano paulistano. Um aspecto marcante tanto nos seus personagens humorísticos do rádio (que fez muito sucesso nos anos 40 ao 60), como nas suas letras de música, foi o “humor reflexivo” que era trágico e melancólico.
O seu humor era “reflexivo”, pois ele fazia as pessoas pensarem sobre o seu cotidiano. Ele não admitia, mas indiretamente ou inconscientemente era um militante social, fazendo as massas refletirem sobre seu estado.
Somente nos anos 50, Adoniran Barbosa assume e reproduz intencionalmente os erros gramaticais nas letras de música. O maior fator para esta mudança, foi o convívio com o Grupo de samba “Demônios da Garoa”. Este grupo, no qual conhece durante o trabalho na Rádio Record, grava alguns sambas que ganham alguns concursos de música em São Paulo. No ano de 1954, os “Demônios da Garoa” cantam pela primeira vez a música “Saudosa Maloca” de uma maneira diferenciada, colocando erros gramaticais na letra, com intenção de reforçar o lado cômico do acontecimento da letra. Esta modificação, que inicialmente aborreceu Adoniran Barbosa, faz ganhar o festival musical e proporciona um tremendo sucesso da música em âmbito nacional.
Adoniran Barbosa se transforma em um cronista da realidade e esplendido músico, após deixar seus estudos e passar muitas necessidades. Será Adoniran um “anti-herói” por isso? Pelo contrário, ele, assim como toda a população pobre, são os verdadeiros heróis ao sobreviverem à barbárie e exclusão social que o sistema capitalista proporciona.
    
Caso estivesse vivo com certeza seria um dos grandes gênios da periferia.
Equipe Blog do Maurício

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